O jornalista Sandro Almeida de Araújo, de 46 anos, foi perseguido e agredido por quatro policiais militares no momento em que chegava em casa, em Nova Andradina (MS), nesta sexta-feira (2). De acordo com o secretário de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul (Sejusp-MS), Antônio Carlos Videira, todos os agressores são PMs. A agressão foi filmada por câmeras de segurança.
O secretário confirmou que um dos policiais militares estava de folga e outro cumpria licença médica. "Nós estamos investigando o caso com muito afinco. Além de ter um de folga e outro de licença médica envolvido neste caso, um outro policial é militar ambiental. Três dos policiais são lotados em Nova Andradina e um em Bonito (MS)".
Em contato com o g1, o jornalista disse que foi enforcado e agredido pelos quatro policiais. No vídeo é possível ver que os agressores chegam em dois carros, um é estacionado na via de forma incorreta, e partem para cima de Sandro.
Segundo o jornalista, os homens não se identificaram como policiais e não apresentaram mandados de busca ou intimação.
"Fui perseguido no meio da rua. Quando percebi que estava sendo perseguido, corri com o carro para frente de casa, já pensando que as câmeras iriam filmar. Quando vi um cara descendo do carro, não reconheci, o segundo eu reconheci e vi que era policial militar de Nova Andradina", detalhou o jornalista.
Os filhos de Sandro, que estavam dormindo, foram acordados pelo barulho alto e viram o pai sendo agredido.
De acordo com o jornalista, e como é possível ver no vídeo das câmeras de segurança, pelo menos um dos policiais estava armado. Sandro detalha que ficou sem ar ao ser mobilizado pelos suspeitos.
"Comecei a falar que tenho pressão alta e que não estava bem, os homens pararam de me enforcar. Os homens disseram que queriam revistar meu carro, mesmo sem nenhum tipo de mandado, eu deixei. Eles revistaram meu carro, não acharam nada. Depois da revista eu entrei na minha casa, tomei um remédio para me acalmar, voltei para o portão e os homens tinham ido embora".
O jornalista disse que não entendeu um motivo para as agressões. Entretanto, acredita que tenha sido agredido pela atuação na cobertura de segurança pública em Nova Andradina. "Eu costumo a cobrir a parte de segurança pública na cidade, informar sobre falhas. Alguns policiais pediam para eu revelar minhas fontes, mas não revelava. Acredito que tenha sido agredido pela minha atuação".
INVESTIGAÇÃO
Após as agressões, Sandro registrou Boletim de Ocorrência (BO) na Delegacia de Nova Andradina. O caso foi registrado como agressão.
Pelo caso envolver Policiais Militares, a Corregedoria da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul foi acionada e vai investigar o caso. O g1 entrou em contato com a PM, que afirmou ter instaurado procedimento administrativo para apurar as circunstâncias do caso. Leia a nota na íntegra:
"O Comando da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul informa que já está tomando tomas as medidas necessárias para elucidar os fatos ocorridos na data de 02 de junho, na cidade de Nova Andradina, na qual esteve envolvido o cidadão Sandro de Almeida Araújo. Será instaurado procedimento administrativo para apurar as circunstâncias, bem como, a conduta dos Policiais Militares envolvidos nessa ocorrência. A Polícia Militar de Mato Grosso do Sul é formada por mulheres e homens que diariamente servem a sociedade sul-mato-grossense mesmo com o risco da própria vida e, em respeito a esses policiais militares e a toda comunidade atendida pela Corporação, o Comando da PMMS, reafirmando o compromisso da instituição com o fiel cumprimento das leis tem total interesse em elucidar as circunstâncias do fato citado. Ademais, a PMMS é uma instituição que preza e promove o Estado Democrático de Direito o qual se solidifica, também, pelo livre trabalho da imprensa, segmento que atua em harmonia com a Corporação, inclusive, incentivando o aperfeiçoamento do trabalho desenvolvido pela Polícia Militar".
O QUE DISSE O SINDICATO
Em nota, os sindicatos dos jornalistas de Mato Grosso do Sul e de Dourados, repudiaram a agressão contra o jornalista Sandro Almeida de Araújo. Leia a íntegra do posicionamento.
"O Sinjorgran (Sindicato dos Jornalistas Profissionais na Região da Grande Dourados) repudia com veemência a agressão praticada por policiais militares à paisana contra o jornalista Sandro de Almeida Araújo, que trabalha como repórter e é diretor de portal de notícias de Nova Andradina, Mato Grosso do Sul. Em um estado democrático de direito é incabível a agressão por parte de agentes do Estado contra qualquer cidadão, muito menos contra um jornalista em razão da sua profissão. Essa não foi a primeira vez que homens da Polícia Militar de Nova Andradina investiram contra o jornalista Sandro de Almeida Araújo em razão da postura investigativa desse profissional. Se o comando-geral da Polícia Militar e sua Corregedoria tivessem agido com rigor e imparcialidade a situação não teria chegado ao extremo registrado nesse último episódio, onde o jornalista foi perseguido, cercado, agredido física e moralmente por policiais militares armados e à paisana. O Sinjorgran espera que o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, e o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Carlos Videira, determinem a pronta investigação desse grave crime de tortura contra o jornalista Sandro de Almeida Araújo, punindo com o rigor da lei aqueles que deveriam usar a nobre profissão de agente da lei para proteger o cidadão e não para perseguir, agredir e torturar um jornalista em razão do seu trabalho constitucional de informar a sociedade. O Sinjorgran vai acompanhar de perto a apuração dessa grave denúncia, cobrando transparência dos organismos de segurança pública e também dos órgãos de controle como o Ministério Público Estadual (MPE). Por fim, o Sinjorgran renova e ratifica o compromisso de defender todo jornalista que sofrer ameaça ou agressão física ou moral na tentativa de censurar um profissional da imprensa ou cercear o direito que a sociedade tem de receber informação, mesmo que a notícia não agrade quem está no poder ou no comando das forças de segurança pública".
Por: Lucas Lima - Jornal A Princesinha News
G1 MS