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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou, pela primeira vez, que recebeu R$ 17,1 milhões em doações via Pix, como consta em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviado à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos extremistas de 8 de janeiro.
Até então, assessores e filhos de Bolsonaro vinham apenas reclamando da divulgação dos dados. O ex-presidente avisou que os recursos servirão para pagar suas contas e ainda sobrará para comer "pastel com caldo de cana" com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Valor arrecadado por Bolsonaro via Pix é 17 vezes maior que o necessário para pagar multas
"Obrigado a todos aqueles que colaboraram comigo no Pix há poucas semanas", afirmou. "Dá para pagar todas as minhas contas e ainda sobra dinheiro aqui para a gente tomar um caldo de cana e comer um pastel com a dona Michelle", disse o ex-presidente durante um encontro do PL Mulher em Santa Catarina, neste sábado (29).
Bolsonaro recebeu R$ 17,1 milhões em suas contas por meio de transferências bancárias realizadas por Pix entre os dias 1º de janeiro e 4 de julho deste ano. O valor representa sete vezes o que o ex-presidente declarou em bens ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições do ano passado.
A Defesa de Bolsonaro diz que os R$ 17 milhões apontados pelo Coaf são doações de apoiadores
O relatório do Coaf mostrou que 18 pessoas — advogados, empresários, militares, agricultores, pecuaristas e estudantes — pagaram entre R$ 5.000 e R$ 20 mil ao ex-presidente. Além delas, há três empresas, uma das quais fez 62 transferências que totalizam R$ 9.600.
Mesmo com os milhões recebidos via Pix, o ex-presidente não pagou suas multas com o estado de São Paulo. O registro de débitos inscritos na dívida ativa paulista mostra que o ex-chefe do Executivo brasileiro tem sete multas na Secretaria de Saúde do Estado, que somam uma dívida de mais de R$ 1 milhão.
Em junho, deputados e influenciadores bolsonaristas chegaram a fazer uma campanha que pedia doações via Pix ao ex-presidente, alegando que ele seria vítima de "assédio judicial" e que precisaria de ajuda para pagar o que chamaram de "diversas multas em processos absurdos".
A assessoria de Bolsonaro confirmou o número do Pix, e ele não desautorizou os depósitos. No fim de junho, o ex-presidente disse que a "vaquinha" havia arrecadado o suficiente para pagar multas, sem revelar o valor.
Em comunicado à imprensa, a defesa de Bolsonaro afirmou que o recebimento é lícito. "Para que não se levantem suspeitas levianas e infundadas sobre a origem dos valores divulgados, a defesa informa que estes são provenientes de milhares de doações efetuadas via Pix por seus apoiadores, tendo, portanto, origem absolutamente lícita." Disse ainda que adotará medidas legais cabíveis para investigar a divulgação das informações.
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel da ativa Mauro Cesar Barbosa Cid, também apareceu em relatório do Coaf. O órgão registra que Cid recebeu depósitos de R$ 1,4 milhão em seis meses, com movimentações consideradas "atípicas" entre julho de 2022 e maio deste ano.
O relatório mostrou ainda que Cid enviou R$ 368 mil aos EUA em remessa "atípica" em janeiro de 2023, quando Bolsonaro já estava no país. O Coaf afirma que a "movimentação elevada" pode indicar "tentativa de burla fiscal e/ou ocultação de patrimônio".
VAQUINHAS
A campanha de doação para o ex-presidente começou depois do julgamento do TSE que o deixou inelegível. Parlamentares do PL foram os que mais movimentaram a campanha. Bolsonaro não é o único a recorrer a vaquinhas.
Após visitar o ex-deputado Daniel Silveira em Bangu 8, a defesa do ex-parlamentar resolveu iniciar uma campanha em suas redes sociais para arrecadar valores para "resgatar sua dignidade" e ajudar a família, que está passando por necessidades financeiras, de acordo com a defesa.
Em abril, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) usou as redes sociais para pedir dinheiro a seus eleitores para pagar indenizações nos processos judiciais em que foi condenada. Em um vídeo, a parlamentar diz que, somente naquele mês, precisou pagar R$ 65 mil em indenizações, o que a levou a pedir empréstimo bancário.
Em 2022, condenado a pagar indenização por danos morais ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-procurador Deltan Dallagnol afirmou que recebeu R$ 500 mil de doações de apoiadores. O valor, segundo ele, foi reunido em 36 horas.
Por: Amanda Cristina - Jornal A Princesinha News
Créditos: R7